Por Carolina Rocha Barbosa
Quando se fala em corrupção imagina-se, imediatamente, políticos corruptos que circulam por aqui ou pelos lados do planalto central. Mas não é apenas no congresso ou no senado. A crise ética está em todas as esferas da sociedade brasileira.
Pode-se dizer que isso não é apenas fruto das falcatruas vigentes em Brasília, mas resultado de um processo histórico que se deu ao longo de 500 anos.
Reconhecido nacionalmente como a forma especial que os brasileiros têm para resolver seus problemas, o jeitinho foi transformado em rito e sua prática se amplia para ser utilizada em todas as situações conflitantes da realidade social. E isto ocorre desde o princípio. Na terra de Santa Cruz, portugueses já colocavam em prática a troca de favores para driblar as dificuldades. Com o passar dos anos, os padrões culturais da vida colonial brasileira se reproduziram da mesma forma.
A sociedade brasileira é coletivista por natureza e não foi fundada no indivíduo, mas nas relações pessoais. Por um lado, bom: o brasileiro não é exclusivamente egoísta. Por outro, vivencia-se somente aquilo que as suas relações pessoais lhe permitirem conseguir.
A desigualdade do país dá a idéia – e não só a idéia, mas a real formação – de injustiça social. E essa situação cria possibilidades para se formar mecanismos úteis a fim de driblar essa injustiça. A própria deficiência do sistema jurídico acaba transmitindo o desejo de caminhar na contramão das normas, quando convém. Tem sempre um jeitinho para fugir da burocracia, das filas intermináveis, da dificuldade para passar em um concurso público.
O jeitinho brasileiro é a transgressão suave já institucionalizada e aceita como característica fundamental e indispensável para o simpático e alegre brasileiro legitimar o seu poder diante dos outros. O seu problema é sempre mais urgente que o do vizinho. E isso, claro que somente isso, justifica que você fure a fila do supermercado.
O componente das relações pessoais que envolvem “capital” são interessantes. Acumula-se em termos de contato e influência. O antropólogo Roberto Da Matta diria: Seria como se as relações pessoais entre nós desempenhassem o papel do Judiciário nos países individualistas e igualitários. Como cabe ao Poder Judiciário dirimir conflitos a partir dos casos concretos, teríamos, no nosso caso específico, uma resolução “informal”, sem burocracia e rápida: através da “carteirada”, do jeitinho, da ameaça velada e do “você sabe com quem está falando?”.
Esse mecanismo de navegação social pode ser comparado ao uso das estratégias de negociação nos contratos sociais, em muitas vezes equiparado a um ajuste social para superar as dificuldades financeiras das camadas desprivilegiadas e a aceitação de certas transgressões como forma de protesto.
Em função da prática generalizada, que faz parte do nosso dia-a-dia, a rigidez da honestidade acabou sendo domesticada e agora assume novas proporções. E esse tipo de atitude, que vem se expandindo, contribui para aumentar a desigualdade social e até mesmo para legitimá-la.
O Brasil enfrenta uma crise ética de grandes proporções e desta forma o desafio de preservar a integridade moral e o vencimento de obstáculos tornou-se necessidade constante na vida em coletividade.
Deixe um comentário